Friday, March 07, 2008

Oras bolas

- Eu vou levar um par de cada!

Annie gostava de sapatos do mesmo jeito que Angelina Jolie gostava de crianças: tinha verdadeira obsessão e queria todos para si. Nascida Annie Hall Spinoza, homenagem de sua mãe ao filme de Diane Keaton produzido naquele ano, agradecia por não ter nascido um ano antes, caso contrário, correria o risco de se chamar “Rocky”.

Tinha tudo. Menos a sanidade que faria alguém não colocar o poodle da vizinha no microondas. Esse era seu maior problema. A maldade. Aos 6 anos de idade, trocara o leite de seu gato Peter por Creolina. Por pouco o bichano não morre. Apanhara com o cinto de couro de seu pai munida apenas de um estranho sorriso de satisfação, enquanto o gato, já sem pêlo algum, miava tristonho. Este episódio em particular pode ter desencadeado suas tendências sadomasoquistas que, num futuro não muito distante, começariam a dar o ar de sua graça. Quando completou 14 anos, insinuou-se, sob o forte cheiro de formol do laboratório de química, para Beto, colega de classe que nutria sentimentos pecaminosos pela mocinha. Quando o pobre abaixou suas calças, crente de que teria sua primeira e mais temida chupada, Annie tirou uma foto de seu membro e o deixou ali, vulnerável e literalmente na mão. Na manhã seguinte, pôsteres estampando um finíssimo pênis ilustravam as paredes do colégio. Daí viera o apelido “Beto Tubo de Ensaio”. Em sua festa de 23 anos, Annie fizera com que o garçom do bar em que comemorava seu aniversário fosse demitido, contando ao dono do bar, entre soluços e lágrimas de crocodilo, que o rapaz passava a boca das garrafas em seu ânus antes de entregar para os clientes. O coitado saíra aos prantos, resmungando algo sobre sua esposa ter acabado de dar à luz a trigêmeos, enquanto Annie segurava o riso e aceitava as desculpas do dono do estabelecimento.

Talvez por isso, para se punir por tudo que havia feito de errado, casara com Modesto. E esse, não tinha nada. Modesto era modesto. Não acreditava em seu potencial, talvez por não tê-lo mesmo, e sempre se achava menos. Menos inteligente, menos engraçado, menos interessante. Já Annie, o achava ruim. Ruim de cama, principalmente. Às vezes se perguntava o que estava fazendo com um paspalho desses. Então lembrava de seu vício por sapatos. Não que ele os pagasse, muito pelo contrário. Modesto era, inclusive, menos até na sua profissão. Não recebia um aumento há 3 anos e convenhamos, seu salário mal pagava o aluguel. Mas que outro homem aceitaria ter seus testículos pisados pelos saltos dos sapatos novos de Annie? Era a única vez em que ela gozava.

1 Comments:

Blogger ★ Ana Batisa ★ said...

ahahaahhahaaha, adoreiiiiiiii!! ri a cada situacao imaginada!! quer dizer, ateh a boca da garrafa, hahaha, ali a annie comecou a ser cruel demaissss!! coitadas das bolinhas!!!

beijaoooooo
e continue escrevendo!!!!

11:55 AM  

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