Thursday, August 28, 2008

Carmela.

Eu odeio a minha mãe. Que mãe, em sã consciência, resolve dar à filha o nome de “Carmela”? Como se ela não tivesse previsto que o apelido “Remela” assombraria minha vida inteira. E como se não bastasse. Minha mãe, que chama Ana – por Deus, porque eu não poderia ter um nome decente? – deu às minhas irmãs mais novas os nomes Isabela e Isadora. Isabela é bela e Isadora todo mundo adora. E eu, fico com as remelas. Queime no fogo do inferno, bruxa satânica!

E o dia que eu tive catapora e minha mãe ligou para a escola e para a mãe de todas as crianças da minha sala? Escutei meu nome sendo chamado na rua, corri para a janela e tive que escutar em coro “Carmela remela com varicela na janela!”. Odeio a minha mãe.

Depois disso, as coisas só pioraram. Minhas irmãs, gêmeas, lindas e louras, nasceram e viraram as atrações da casa. E eu, com minhas remelas, fui completamente jogada às traças. Literalmente, às traças, porque só me restava encontrar um pouco de companhia nas páginas mofadas dos livros da biblioteca de casa. Eu sabia o que era fimose antes mesmo de minhas irmãs descobrirem que Papai Noel era o padeiro da esquina.

Que criança é uma peste, todo mundo já sabe. E minha maior ansiedade era passar dessa fase maldita e curar todas minhas cicatrizes emocionais – e uma física, em particular, já que o dia em que resolvi revidar um “Carmela Remela” do Carlão do 4ºA com uma Gramática na cabeça, levei uma fincada de lápis 2B, e dos afiados – com um psicólogo jurássico que cobraria R$ 500, a consulta. Eu tinha certeza que ia ficar tudo bem, mudaria de cidade, de cabelo, de peso, de anticoncepcional e me apresentaria como “Carmela Pinto” na esperança de desviar a atenção do primeiro nome e ouvir alguma piadinha com conotação sexual.

Papo cabeça.

- Meu cérebro encolheu.
- Ahn?
- Meu cérebro.
- O que tem ele?
- Encolheu. Não escutou?
- Escutei mas tentei ignorar...
- Não sei, me sinto mais... burra.
- Deus...
- Sério! Deve ter saído em alguma revista científica que o tamanho do cérebro tem influência na inteligência da pessoa!
- E desde quando cérebro tem a propriedade de encolher?
- Tem. Não sabia? Nunca ouviu que fumar maconha por períodos prolongados encolhe o cérebro? Então.
- Você tem alguma coisa a me dizer?
- Não! Não estou fumando maconha! Seu retardado.
- ...
- Tá, pelo menos não com a freqüência que eu fumava antes...
- Hm.
- Mas não é isso!
- Como você sabe? Aliás, você mediu o seu cérebro hoje e ele estava 1 cm menor, é isso?
- Não dá pra conversar com você.
- Eu tô falando sério! Baseada em que você acha que o seu cérebro encolheu?
- Eu estou demorando muito para lembrar certas coisas...
- Idade...
- Cretino...
- É fato.
- ...e custo a raciocinar sobre coisas simples.
- Talvez você não use muito o seu cérebro.
- Você tá querendo ficar sem o seu, por acaso? É isso?
- Bom...
- Sei lá... só me sinto mais burra. É isso.
- Ok...
- E você nem dá bola? Não te incomoda?
- Que você fume maconha ou que seu cérebro esteja menor? Porque, francamente, contanto que seus peitos permaneçam do mesmo tamanho...
- Idiota.