Friday, February 13, 2009

Fazendo o Jason mijar nas calças.

A sexta-feira 13 amanhece cinza e chuvosa em São Paulo. Apesar das forças sobrenaturais, que fazem com que o meu lençol se enrosque em meu corpo formando um casulo cada vez mais apertado, insistirem para que eu permaneça na cama, em silêncio e imóvel, luto e consigo me refugiar no banheiro. Os olhos ainda acostumam-se com a claridade da lâmpada fluorescente e tateio o mármore da pia em busca da escova de dentes. Mais uma vez, sou tomada por aquele espírito maligno que, desta vez, trava meus músculos fazendo com que a escova repouse entre minha gengiva e a parede de minha bochecha. Arregalo os olhos e um jato d'àgua é lançado em direção a meu rosto por aquela que antes segurava a escova possuída, na esperança de libertação. Borrifo o perfume (para me benzer), reclamo de meu cabelo, coloco as lentes de contato e agora sim, reclamo de meu cabelo com propriedade. Um barulho vindo do interior do quarto. Quase imperceptível, mas em uma sexta-feira 13, é importante ficar ligada. Procuro e encontro a origem. Minha blusa vermelha havia se soltado do cabide, pendurado no puxador do armário, lá no alto, e numa tentativa frustrada de esconder-se de mim e dificultar minha ida ao trabalho, a peguei em flagrante. Pensei em trocar de blusa, imaginando minotauros correndo em minha direção, atraídos pelo vermelho-sangue, mas já era tarde demais para escolhas. Passo por meu dócil cachorro que, ao escutar meus passos, desperta de seu sono profundo e de repente rosna, como se sentisse seres de outra dimensão acompanhando meu caminho. Já no ônibus, monstros equipados com malas, mochilas, sacolas, e bolsas imensas formam obstáculos para dificultar minha trajetória. Estou desarmada mas vou abrindo o caminho, perdendo minhas forças e conseguindo ultrapassar o portão para outro ambiente, desta vez com monstros mais civilizados. Percebo que um deles adormece ao som de algo que parece Enya, ecoando em seus ouvidos. Um descuido, um esbarrão com minha bolsa, e ele acorda. Posso sentir a fúria nos olhos do monstro de cabelo descolorido, agora em brasas, e saio de seu caminho. Chego ao meu destino, metrô. Assim que desço as escadas, sou surpreendida por uma bruxa tentando enfeitiçar-me com seus pães-de-mel. Eu vi Branca de Neve. Recuso no ato. Sigo caminho. Desvio dos tantos degraus de cimento e vou de escada rolante mesmo. Obviamente, obra do espírito controlador. na plataforma, paro atrás de um grupo de duendes sorridentes, um lobisomen de regata do Corinthians e logo sou esmagada por algumas vampiras que se aproximavam por trás (numvemnão que meto o crucifixo!). Uma minhoca gigantesca de ferro surge furiosa, em alta velocidade, da escuridão sombia do túnel e, ao abrir uma de suas dezenas de bocas, sou forçada a entrar pelas vampiras que apressadamente me empurram. A minhoca grita, a boca se fecha e ela continua a correr. Encontro abrigo em um banco que acabara de ser desocupado por um zumbi que provavelmente fora em busca de miolos em uma próxima parada. Sento correndo. A minhoca vomita alguns monstros e engole outros e em meio a tantos seres bizarros, o mais aterrorizador de todos para bem a minha frente: uma senhora enrugada, já corcunda com o peso de sua experiência e com as pernas marcadas pela bacia hidrográfica brasileira, trajando uma blusa fina de tricô de cor branca. O que há de tão terrível nisto? O frio, que evidenciou certas partes - que depois de anos, agora miravam o chão - do corpo velho daquela figura, assustando mais do que filme de terror. Eu, frente ao perigo e tendo o meu campo de visão prejudicado em virtude de tamanha aberração, cedi meu lugar mais do que depressa, com medo de ficar cega para sempre. Com um sorriso amarelo de dentes afiados, a velha agradeceu e esparramou toda a sua massa no banco, que ficara pequeno. Depois dessa, o Freddy Krueguer apertou minha mão e pediu aos prantos para que eu o levasse para longe deste pesadelo.

5 Comments:

Blogger Leandro Pimentel said...

a MELHOR DE TODAS. realmente meu amorr..ehehehe!!!
:)

Ótimo!!

Acho que deveriamos enviar isso para Hollywodd agora.
:**

10:18 AM  
Anonymous Anonymous said...

Hahahaha, adorei Tata...Minhoca gigantesca...
E, ainda ei de dizer que minha amiga é uma escritora famosa. =D
Continue escrevendo, querida.
Puxa, tô tão distraída que nem vi que hj é sexta 13!!! O.o

beijooo :*

11:05 AM  
Blogger Wanessa M M said...

noossa...e reparou que mes que vem será sexta 13 de novoo???? hahahah
muito bom! adorei a minhoca e a bacia hidrografica da velhinha...só fico imaginando como era! hahaha

5:09 AM  
Blogger André said...

Gentileza reduzir os posts. Não posso passar a tarde no teu blog.

8:22 AM  
Anonymous Anonymous said...

eu li tudo ta... e gostei... principalmente do texto sobre cocô, tão legal falar dele né

bjo da fe

8:09 AM  

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